INTRODUÇÃO
A expansão do Cristianismo Ortodoxo nas Américas ocorreu, principalmente
como resultado da influência das levas de imigrantes que se
transferiram para o Novo Mundo provenientes do Leste Europeu. Essa foi
regra geral, exceto em dois casos: no Alaska e no Caribe. O caso do
Caribe é o menos conhecido em termos de pesquisa histórica incluindo a
Jamaica onde a Igreja Etíope se estabeleceu com notável vigor regional.
Eu espero que este pequeno artigo inspire alguém de grande conhecimento a
estudar o assunto apropriadamente; e se isso também puder conduzir a um
entendimento mais profundo do Universo Cristão, tantas vezes mal
entendido em sua expressão na Jamaica, então, que Deus seja louvado!
ORIGENS
IGREJA CRISTÃ ORTODOXA AFRICANA GARVEISTA
Marcus Garvey foi um lider negro jamaicano, um nacionalista, figura proeminente do Universal Negro Improvement Association (UNIA), uma influente organização do movimento Black Power surgido na década de 1920. Embora se declarasse Católico Apostólico Romano, Garvey encorajou seus seguidores a imaginar Jesus como um negro e a organizar sua própria Igreja. Para enfatizar que tal Igreja não seria nem Católica nem Protestante, foi adotada a denominação "Ortodoxa", ainda que não correspondendo aos canones da tradicional Igreja Cristã Ortodoxa do Oriente, herdeira de antigas tradições doutrinárias desde a primeira ruptura da comunidade cristã, nos primeiros anos da Idade Média.
Os Ortodoxos Garveistas entraram em negociações, através da Igreja Ortodoxa da África, com a Metropolitana da Rússia a fim de obter reconhecimento oficial como jurisdição da Ortodoxa tradicional. Infelizmente, a negociações fracassaram porque os líderes Ortodoxos exigiram uma completa submissão administrativa e dogmática e os garveistas não se dispuseram a tais concessões posto que desejavam praticar a doutrina conforme suas próprias interpretações. Depois disso, um bispo Ortodoxo Africano Garveista foi consagrado pelos Católicos Americanos - instituição que rejeita a autoridade do Papa romano mas que, em outros aspetos, em tudo se assemelha à orientação proposta pelo Vaticano.
A Igreja Garveista tinha milhares de fiéis em três continentes e foi um símbolo do anticolonialismo no Kênia e em Uganda. Naqueles países, os Ortodoxos Africanos rapidamente romperam relações com a Igreja de Nova Iorque e passaram a integrar o Patriarcado Grego de Alexandria, inteiramente Ortodoxo. O mesmo processo se repetiu em Gana, onde O Frade Kwami Labe, graduado do Seminário de Santo Vladimir, em Nova Iorque, conduziu a formação de uma comunidade Ortodoxa fortemente influenciada pelas idéias garveistas. (Eu percebo que muitos religiosos africanos ortodoxos não-canônicos - não alinhados em ponto ou pontos com a doutrina oficial - muitas vezes parecem envergonhar-se de suas origens "heréticas" e por isso procuram se distanciar de qualquer associação os princípios do movimento jamaicano).
JUDEUS NEGROS
Os escravos negros da Idade Moderna sempre sentiram uma certa identificação com a história do cativeiro judeu, fosse na Babilônia ou no Egito; alguns justificam esta identificação através de uma lógica extrema que considera os negros escravizados como verdadeiros judeus. Este pensamento, provavelmente, teve sua origem nos Estados Unidos, no período escravagista e resultou na conversão de muitos negros ao judaísmo. A idéia era reforçada pela existência de uma comunidade negra judaica na Etiópia, minoria na população daquele país, que se organizava em guetos juntamente com os muçulmanos. Esses judeus, muitos pertencentes a grupos francamente anti-semitas, se auto-proclamam "verdadeiros judeus" mas, na realidade, em muitos casos, são Cristãos com a doutrina centrada no Antigo Testamento, reunião de livros que, em suas edições euro-ocidentais, os judeus etíopes, consideram distorcidos pela "cultura branca" e cuja originalidade afro-oriental pretendem restaurar. Um dos desses livros de maior importância é o Livro daGlória dos Reis, o Kebra Negast, uma escritura apócrifa (não reconhecida pelo Vaticano), supostamente traduzido diretamente do aramaico (antiga língua dos judeus). Neste texto, aparecem profecias que indicariam a destruição da "Babilônia Branca" ou "Babilônia dos Brancos" e o retorno dos Israelitas para a África, para o verdadeiro Zion (o Monte Sião). O Kebra Negast foi adotado pelos Rastafaris como parte de seus textos litúrgicos.
O PROFETA GARVEY
Nos livros de história, Marcus Garvey aparece como um líder político interessado em promover a igualdade socio-econõmica entre negros e brancos. Na tradição popular jamaicana, Garvey aparece sob uma outra ótica; é considerado como um profeta inspirado por Deus, o precursor anunciador de Haile Selassie. Entre profecias e milagres, atribui-se a Garvey a predição de que um "poderoso rei" surgiria na África trazendo justiça aos oprimidos. Quando o príncipe (Ras) Tafari da Etiópia foi corado imperador com ampla cobertura da imprensa mundial, muitos jamaicanos entenderam que ali estava o cumprimento da profecia de Garvey e, assim, nasceu o Movimento Rstafari. Garvey ainda era vivo quando o rastafrianismo começou a declinar. O próprio Garvey conheceu dias difíceis, preso sob acusação de fraude comercial. O "profeta" não era admirador de Haile Selassie; ao contrário, lembrava sempre a escravidão que ainda era vigente na Etiópia e considerava os Rastafaris como fanáticos loucos. Não obstante, os rastafaris continuaram reverenciando Garvey como a uma reencarnação de João Baptista, que segundo a versão bíblica rasta, tivera suas dúvidas sobre a identidade do Cristo!
A Trindade segundo a teologia bobo ashanti (ou bobo-shanti),
congregação dos rastafaris discípulos do Mestre Príncipe Emmanuel.
Na ilustração, Emmanuel, Haile Selassie e Marcus Garvey, manifestação terrena
da Trindade Divina.Emmanuel personifica Jesus, Selassie é o ícone de Jah
enquanto Garvey, profeta como João Baptista, é a inspiração do Espírito Santo.
PERÍODO CLÁSSICO
Entre os anos de 1930 e 1960, o rastafarianismo era um movimento religioso local com pouca influência fora da Jamaica. Muitos líderes Garveistas insistiram na reverência a Haile Selassie e continuaram considerando o rei etíope como o personagem messianico da profecia de Marcus Garvey. O movimento se manteve sob a liderança dos "Elders", instituídos por consenso comunitário e que pregavam, cada qual, sua livre interpretação de texto sagrados; e não somente na Jamaica, porque o movimento se difundiu mundialmente em uma "Igreja ou Religião Rastafari" embora sem uma unificação doutrinária. Os livros mais utilizados eram, de fato, o Kebra Negast e a Bíblia do Rei James, que os "Elders" não hesitavam em "emendar" ou "corrigir".
RELIGIÃO DE REVELAÇÃO
Esta Exegética (interpretação) anárquica dos textos era considerada uma virtude pelos Rastas clássicos. Rastafari não era uma religião, nem uma organização sociopolítica ou ainda uma filosofia; antes, era uma uma atividade dirigida à busca da compreensão e aceitação-realização da "Vontade de Deus" (Jah). Os Rastas clássicos, em geral camponeses e artesãos de pouca erudição, apreenderam com facilidade o espírito Talmudico das Escrituras e promoveram encontros onde eram realizados debates teológicos e orações comunitárias, atividades em prol da busca da Verdade. Os rastafaris não se identificavam com os protestantes. Acreditavam que o movimento tinha surgido por desígnio divino, inspirado por Revelações. Também não se aproximavam do Catolicismo representado pelo Vaticano do "Papa infalível", porque um só homem não pode conter a Verdade; antes, Jah se manifesta em todos porque é o Um que está em toda parte.
MISTICISMO
Desde o início, a experiência mística é uma característica forte do rastafarianismo que enfatiza o "Temor a Deus" ou respeito à majestade de Deus Onipresente e o Poder de Deus, o Onipotente. Através da união com Jah o temor volta a ser o que deve ser, "Poder" que advém do autoconhecimento somente possível por meio depersistente disciplina e repetição ritual das idéias. Por essa razão, os Rastas não fazem adeptos mas confiam que a inspiração de Jah alcança as pessoas que deve alcançar. A união mística foi expressada pelo uso de um neologismo gramatical, um pronome composto "I and I" - o qual pode significar Eu, Nós, Você (s) sempre sendo um meso ser unidos na onipresença de Jah).
COMUNIDADE
Muitos Rastas viveram e vivem, ainda hoje, em zonas rurais, próximos a bosques e florestas, habitando aldeias governadas por "Elders". Em muitos destes grupos, há segregação entre homens e mulheres em um sistema semelhante ao dos monastérios. Em outros casos, frequentemente, organizam-se em aldeias que reconstituem as vilas africanas. Os "Dreads" ou Rastafaris observam cuidados alimentares. A comida, denominada I-Tal, é uma dieta baseada nas orientações do Pentateuco (Bíblia) com adaptações sempre visando o aspecto espiritual da nutrição. Em geral, os homens usam barba que aliada aos longos cabelos resultam em um aspecto que, no período clássico do rastafarianismo jamaicano, era causa de discriminação social, obrigando muitos Rastas a usar a "baldface", cara barbeada a fim de obter colocação no mercado de trabalho e ocultar sua filiação ao movimento rastafari. Durante o período clássico, os famosos "dreadlocks" (as tranças e mechas) foram usados apenas por uma minoria, especialmente por aqueles que haviam se comprometido com o "Voto do Nazareno". Mais recentemente, pesquisas históricas sugerem que os dreadlocks se populazizaram através de um reação monástica contra a liberalidade e corrupção de alguns "Elders". Esta espécie de "clero rastafari", praticante de celibato e muitos seguidores da ética puritana dos "guerreiros nyabinghi", remanescentes da cultura pagã, herdaram os dreads como símbolo emprestado de mais de uma tradição cultural, inclusive do vodoo, religião folclórica da Jamaica colonial.
HINDUISMO
Outra fonte de pensamento pagão no Rastafarianismo foi a religião praticada por milhares de trabalhadores hindus que chegaram à Jamaica depois da abolição da escravatura. O Hinduísmo Clássico é a maior força religiosa das Índias Orientais, especialmente em Trinidad, mas sua influência no rastafarianismo tem sido, frequentemente, desconsiderada. Os dreadlocks, o uso da Ganja, o eremita e o asceta são figuras bem conhecidas na Índia e muitos "homens santos" há muito adotaram o modo de viver "rasta", habitando cabanas modestas praticamente ao ar livre e fumando marijuana em rituais religiosos comunitários, quando utilizam o cachimbo comunal. A doutrina hindu da reencarnação foi adotada por numerosos Dreads que acreditam, inclusive, que Jamacainos de hoje são a reencarnação de Judeus do passado ou então dizem "Sinto em mim o chicote do Senhor de Escravos", para significar, não que vieram, de fato em época de escravidão, mas para se referir um profundo sentimento de solidariedade para com os ancestrais com os quais se identificam pela crença de que o Todo é sempre o Mesmo Um.
REPATRIAÇÃO
Entre os poucos pontos de concordância teológica sobre o qual todos os
"Elders" (líderes reliogiosos rastafari) concordam está a "divindade" ou
anatureza divina de Haile Selassie (embora seja um tema polêmico).
Concordam ainda que Selassie pretendeu a restauração do "Mundo Negro"
sugerindo o retorno dos afro-descendentes ao continente africano. A
partir desta idéia, desenvolveu-se a teoria da Repatriação. Muitos dos
primeiros Elders e também entre os atuais permanece a expectativa do
momento histórico do Retorno à pátria-mãe, especificamente, as terras da
antiga Abissínia, que hoje compreendem Etiópia e parte do Sudão. A
Teoria da Reapatriação introduziu no rastafarianismo uma dimensão
política de objetivo definido: grande parte dos Rastafaris, em todo o
mundo, e sobretudo na Jamaica, passaram a desejar um retorno imediato à
Etiópia.Uma situação sem semelhante histórico, com exceção para o
Sionismo, e que exigiu das autoridades jamaicanas severas medidas de
controle. Revolucionários convencionais atuam com objetivos locais mas o
slogan Rasta nunca foi 'Poder para o Povo", mas "Deixe o meu povo ir".
Com o passar do tempo a frustração rastafari em relação ao Retorno
atingiu o limiar de um quadro social explosivo. As tensões aumentaram a
partir de 1954, quando o governo empreendeu uma ação repressiva contra
um "pequeno-Estado" chamado Pinnacle, governado pelo Elder Leonard
Howell que adotava a postura de um tradicional chefe africano ocidental.
Os seguidores de Howeels migraram para os arredores de Kingston e o
movimento, deixando de ser uma iniciativa separatista rural, tornou-se
uma associação presente nos guetos da capital. Entre o fim dos anos de
1950 e início dos anos de 1960, uns poucos Rastas, em desespero,
violaram o ensinamento de Não-violência dos autênticos Elders e
promoveram uma série de atentados que resultaram em muitas mortes em
troca de tiros entre Rastafaris e policiais. Este episódio colocou o
movimento nos jornais do mundo sob uma ótica extremamente negativa; esta
imagem somente começou a ser restaurada com o advento da música reggae,
poucos anos mais tarde. O período clássico de isolamento chegava ao
fim.
FEDERAÇÃO MUNDIAL DA ETIÓPIA
Ethiopian World Federation - EWF
País africano mencionado na Bíblia e única nação daquele continente que
resistiu com sucesso às investidas do colonialismo, a Etiópia sempre foi
um ponto de referência para os movimentos de resgate da "consciência
Negra" nas Américas. Entretanto, o contato entre Etiópia e Américas
jamais foi um fluxo intenso de relaçõe até a Segunda Guerra Mundial. Em
1937, o imperador selassie, em exílio, fundou a Ehtiopian World
Federation (EWF) para angariar recursos e apoio político dos grupos
nacionalistas do Ocidente. Depois da Guerra , a EWF continou a existir
sob várias formas, algumas sob controle local porém todas mais ou menos
empenhadas em algum contato com a Abssínia.
TRINIDAD & TOBAGO
Nos anos de 1940, um bispo garveista chamado Edwin Collins fundou o que
ele dizia ser uma legítima uma legítima Igreja Copta subordinada ao
Patriarcado de Alexandria - representante dos Ortodoxos no Egito (Na
hierarquia da Igreja Ortodoxa os líderes maiores são chamados
Patriarcas). Todavia, o Garveismo Coptico aproximava-se bem mais da
Igreja Ortodoxa Africana que era, canonicamente, uma das divisões mais
polêmicas. Em 1952 a Diocese Copta Garveista de Trinidad e Tobago
romperam relações com o Patriarcado de Alexandria e secolocaram, por
contaprópria, sob a orientação de Adis Abeba (capital da Etiópia, sede
da Ortodoxia etíope). O clero foi importado da África e um sistema
canonico completo foi implantado nas Ilhas. Trinidad é uma história de
sucesso na expansão da Ortoxia Etíope: um clero nativo foi rapidamente
ordenado e paróquias foram organizadas em todo país e na Guiana. Em
1959, a organização central Copta Garveista em Nova Iorque tentou obter
um status canonico. O arcebispo foi à Etiópia onde teria sido ordenado e
retornou acompanhado por jovens padres e diáconos etíopes que
ingressaram em Universidades americanas. Esse clero rompeu quase que
imediatamente com os Garveistas e instituiu paróquias voltadas para as
necessidades dos imigrantes etíopes. Por essa manobra, os Garveistas
responsabilizaram o novo grupo pelo declínio da Igreja nos Estados
Unidos. Um dos clérigos reformadores tornou-se representante
internacional da Ortodoxa Americana; Laike M. Mandefro, Arcebispo
Yesehaq, metropolita do Hemisfério Ocidental e Apóstolo do Caribe. Todo
esse movimento se desenvolveu à parte do movimento rastafari, que ainda
estava retrito à Jamaica. Um concílio (ou Assembléia de Cônegos) foi
instaurado ali em 1938 sendo quase que imediatamente rejeitado pelos
rastafaris, em particular por dois proeminentes Elders, Joseph Hibbert e
Arquibald Dunkley. Ambos eram místicos notáveis, Iniciados que
pertenciam à Loja Maçônica Copta da Costa Rica e foi através deles, e
não de outra forma que o cristianismo ortodoxo penetrou na Jamaica.
O Sacerdote etíope da Igreja Ortodoxa
exibe uma Bíblia muito antiga com ilustrações onde figuram
Reis Etíopes - em Santa Maria de Zion, Axum (atual
Eritréia).
GROUNATION DAY
Com a expansão da Igreja Etíope em Trinidad, Haile Selassie foi
convidado a visitar aquele país, em 1966. Nesta época, a Jamaica era
palco de uma crise social nacional na qual os Rastas eram vistos como
uma ameaça que devia ser dispersada. Um grupo de sociólogos persuadiu o
governo a investir em uma ligação mais intensa com a realeza etíope. Com
esse fim, aproveitando a presença de Selassie na região, foi negociada
uma parada estratégica do imperador na Jamaica. Assim nasceu o
Grounation Day, para os Rastas jamaicanos, o dia da chegada de Selassie a
Kingston. Ao contrário da versão muito divulgada de que Selassie
estranhava ou espantava-se ao descobrir a existência dos rastafaris
(grande parte dos quais acreditando que o rei etíope era a encarnação da
essência de Deus), era bastante evidente que o propósito de Selassie em
sua visita a Jamaica era um encontro com as lideranças rastas. Recebido
no aeroporto por milhares de rastas que vestiam branco e cantavam
"Hosanas ao Filho de Davi", o rei concedeu audiência para uma delegação
de famoso Elders, como Mortimo Plano e Joseph Hibbert. Os detalhes desse
encontro histórico não foram registrados e existem diversas versões na
tradição oral jamaicana. Certamente, foi proposto aos religiosos que
aderissem oficialmente ao Ortodoxismo; em contrapartida, havia a
possibilidade de promover a imigração de grupos jamaicanos para a
Etiópia que poderiam estabeler colônias em terras do sul do país. Outra
versão corrente diz que Selassie levou aos Elders uma mensagem secreta
mais sintonizada com a realidade dos afrodescendentes do Terceiro Mundo.
Diria esta mensagem, referindo-se ao ideal de repatriação: "Primeiro,
construam a Jamaica".
MISSÕES JAMAICANAS
Em 1970, a convite do Elder Hibbert, Abba Laike Mandefro, pessoalmente,
deu início à evangelização dos rastafaris. Ao longo do ano ele batizou
cerca de mil e duzentos rastas lançando as bases paraa fundação da
Igreja e seu desenvolvimento posterior. Mandefro encontrou forte
opisição de alguns Elders que ensinavam qe Haile Selassie era Jah-Deus
em essência e que batizavam também, mas "em nome Ras Tafari". Na baía de
Montego, somente um Dread aceitou o batismo ortodoxo. Laike Mandefro
deu a este rasta o nome de "Ahadu" - "One Man". Uma grande crise atingu a
nova Igreja em 1971, quando era comemorado o nonagésimo aniversário de
independência da Jamaica. O clero Anglicano, Católico-romano e Ortodoxo,
das Igrejas Grega e Etíope, participavam das comemorações. Os Rastas
escandalizaram-se com as orações conjuntas, reunindo Ortodoxos com
representantes das "falsas religiões". Milhares de membros batizados na
Ortodoxa se afastaram e a paróquia jamaicana parecia inteiramente
perdida. Muitos não hesitaram em organizar Igrejas Rastafari que
começaram a retomar o tradiconal sistema dos Elders incorporando em
diferentes graus a liturgia da Igreja Ortodoxa e sua influência
teológica. Ao lado de grupos heréticos e sincréticos, um movimento
Rastafari Ortodoxo legítimo continou a florescer como espinha dorsal da
Igreja Jamaicana. A Federação Mundial da Etiópia (EWF), sob a liderança
de Dunkley e Hibbert tinha grande prestígio. Na Jamaica, a Federação
mantinha as orientações políticas e sociais e distinguia-se do
rastafarianismo tradicional adotando as regras ortodoxas mas venerando o
Imperador Selassie como um ícone sagrado representartivo de Jah-Deus,
não mais confundido as duas pessoas, o humano e o divino. Essas
orientações diluiram significativamente os anseios populares por um
retorno à África.
* A teologia ortodoxa distingue diferentes graus de divindade. Somente o
"Incriado" é Deus-em-Essência; os homens podem ser "divinos por
participação"; os ícones são canais objetivos, terrenos através dos
quais o poder divino se manifesta no mundo. A questão quedivide os
"irmãos" da fé ortodoxa reside no grau de divindade atribuído a
personalidade Haile Selassie. Os Ortodoxos canônicos dizem que ele é
divino por participação e iconicidade e somente por isso merece
veneração; a congregação rastafari "Doze Tribos" sustentam que ele é
divino em essência confirmada pelos méritos de sua liderança.
REGGAE
Ainda durante os anos de 1970, a reggae music alcançava um apogeu em sua
popularidade; a lírica e os temas religiosos eram uma ragra da poética.
Muitas bandas famosas foram Ortodoxas, como Os Abyssinians, um grupo
ligado ao clero monástico. A família de Bob Marley, superstar do
reaggae, era majoritariamente Ortodoxa embora o próprio Marley tenha
sido, durante muito tempo, adepto da congregação Doze Tribos de Israel.
Em seus últimos anos de vida, quando estava condenado pelo cancer,
Marley passou por uma transformação espiritual (e sua música também) que
culminou com seu batismo na Igreja Ortodoxa. Seu funeral, Ortodoxo, foi
acompanhado por dezenas de milhares de fãs.
O CORTE DOS LOCKS
Em 1975, Haile Selassie morreu na prisão dos generais que depuseram a
dinastia e tomarm o poder. A Etiópia transformara-se em uma República
comuniista. A Igreja Etíope, sob a lei do novo regime enfrentou uma dura
perseguição e somentesobreviveu porque aceitou negociar com seus
perseguidores. O marxismo, em Adis Abeba, não podia tolerar a veneração a
um imperador ou a qualquer personalidade de liderança, tanto mais uma
figura que inspirava revoluções mesmo em terras distantes da Etiópia. Eu
tenho a impressão que a situação política etíope estimulou uma migração
na classe média do país. em boa parte inspirada pela ideologia
rastafari, que lá chegara através dos mídia (meios de comunicação). Na
Inglaterra, o rastafarianismo se espalhou em suas variadas orientações, o
que não era bem visto pelas autoridades, que suspeitavam das
influências "heréticas" da religião e relacionavam os rastafaris como um
nicho da população ligado a atividades criminosas. Porém, em um regime
democrático os Rastas encontraram a proteção da Comunidade Etíope da
Inglaterra, especialmente em Handsworth, distrito de Birmingham. Ainda
assim, em 1976, todos os Rastas Ortodoxos foram pressionados a cortar
suas tranças e mechas e fazer uma declaração formal de repúdio à heresia
de atribuir divindade ao imperador Selassie. Os que cumpriram o
decreto, tão subtamente promulgado, fizeram disso uma atitude meramente
exterior, mantendo na esfera privada suas crenças e usos de menor
visibilidade.
SINCRETISMO
Apesar dos conflitos doutrinários, a Igreja Ortodoxa Etíope difundiu-se
em território caribenho graças aos Movimento Rastafari. Ainda que
atualmente (1995) somente uma minoria derastafaris sejam Cristãos
Ortodoxos conversos, inicialmente, nos primórdios do rastafarianismo,
todos foram mais ou menos, direta ou indiretamente influenciados pelos
dogmas e discurso Ortodoxos.The "makwamya", o incenso durante as orações
na liturgia ortodoxa, foi adotado pelos rastas, assimcomo os artistas
plásticos rastas são influenciados pela iconografia. O sincretismo é
particularmente evidente na organização das Congregações que vem se
impondo como norma ackima da liderança carismática do sistema dos
Elders.
DOZE TRIBOS DE ISRAEL
As Doze Tribos Rastafari em nada se relacionam com as várias Igrejas
Judaicas Negras que usam o mesmo nome. Entre os Rastafari, as Doze
Tribos de Israel é provavelmente a maior e mais famosa entre as
Congregações. Criada em 1968 por Vernon Carrington, o Profeta Gad ,a
doutrina central da Tribos era a crença inabalável em Haile Selassie
comosendo Jesu, o Cristo, que havia retornado à Terra com a majestade de
um Rei.Para eles, a "Segunda Vinda", o Retorno do Messias, havia
acontecido. Sua teologia exotericamente coerente, discurso firme e
eficiente sistema de organização converteu muitos jamaicanos.
BOBO ASAHNTI E PRÍNCIPE EMMANUEL
"Príncipe" Edward Emmanuel, foi o fundador de outra destacada
congregação. Ele era um Elder famoso no período clássico, organizador do
primeiro "Nyabinghi" ou O Grande Encontro Rastafari, em 1958. Príncipe
Emmanuel foi uma figura polêmica que postulava para si mesmo o status de
ser uma das pessoas daSantísima Trindade ressurecta no século XX.
Identificando a si mesmo como Jesus, Emmanuel reconhecia as duas outras
"Personas Divinas" em Heile Selassie e Marcus Garvey (ver leganda na
ilustração acima). Ele esperava que o Congresso nayabhingi reconhecesse
tal essa condição, de Pesoa da Santíssima Trindade. Mas a idéia não
encontrou apoio da maioria. Mesmo sem reconhecimento unânime da
comunidade rastafari, Emmanuel começou a organizar seus numerosos
seguidores em uma Igreja instituída com fundamentos dogmáticos,
hierarquia e um tipo de monasticismo (vida monástica, celibatária). Os
sacerdotes da Igreja de Emannuel, muitos dos quais estiveram na Etiópia,
vestem indumentárias semelhantes as da Igreja Ortodoxa da África e do
Egito.
NOTA DO TRADUTOR: Atualmente, os seguidores do Príncipe Emmanuel
continuam professando as mesmas crenças; um dos braços da Igreja
original, os Bobo-Shanti Rastafari, integram o Etiópia Africa Black
International Congress - Church of Divine Salvation (Congresso
Internacional Negro Etíope-Africano - Igreja da Salvação Divina). Esta
Igreja tem uma página na internet - BOBO-SHANTI RASTAFARI
no servidor Angel Fire. O site contém textos doutrinários: o Credo
Nacional, A Trindade Sagrada, O Sábado, sobre a orientação do Êxodo
regulando o repouso semanal, um artigo sobre a conduta feminina com o
título "A beleza é vã, Favor é falso, Mas a mulher que teme Rastafari,
Ela será elogiada" e uma agenda com OS dias de Celebração. Em "Links",
estão relacionados nove sites, em inglês e espanhol, sobre a congregação
Bobo Ashanti (ou Bobo-Shanti); entre estes, destacamos aqui a sessão de
arte do HOUSE OF BOBO - apresentando o trabalho em desenho e cor do artista Ras Mohambeh.
IGREJA COPTA DE SIÃO (ou DE ZION)
Esta era uma denominação Garveista Ortodoxa moribunda quando foi
revitalizada por hippies brancos convertidos no anos de 1960. Apesar da
liderança parcialmente estrangeira a Zion Coptic cresceu explosivamente
entre os negros jamaicanos, desiludidos com o discurso das Igrejas
canônicas. Os Coptas, como eram chamados, declaravam-se como jurisdição
ortodoxa legítima. Publicaram tratados teológicos e se engajavam em
especulações em torno de temas da Gnose. Apesar do discurso complexo,
circular, o mérito da Igreja de Zion foi adotar uma estratégia de
aceitação e apropriação do que havia de melhor no pensamento clássico do
Rastafarianismo na vida, no cotidiano da Igreja. Mantiveram os
dreadlocks e adotaram os tambores nyabinghi, uma concessão cultural que
naturalmente resultou em muitos conversos. A grande aceitação se
refletia nas finanças da Igreja que passou a contar com abundantes
recursos mas, por isso mesmo, começou a ser alvo de críticas que
apontavam os coptas como grandes proprietários de terras na Jamaica.
Além disso, outros dois aspectos deste Cristianismo Ortodoxo sincrético,
paradoxo em essência, foram causa de controvérsia: a criação informal
de um território específico, um Estado-Igreja e as teorias
gnósticas-rastafari que justificavam o uso da marijuana (maconha) como
elemento de ritual religioso. Estas duas questões valeram a prisão do
líder dos Coptas de Zion.
CONCLUSÃO
Eu acredito que os Rastafari tem sido bastante substimados pelo mundo
afora, incluindo muitos dos fiéis da comunidade ortodoxa. Os rastas
clássicos eram pensadores teológicos e filosóficos sofisticados, não
apenas meroslíderes de algum primitivo "culto-cargo". Esta teologia
refinada foi concebida por eles mesmos e resgatavam temas Cristão que
foram objeto de debate nos primórdios do cristianismo; além disso,
deixaram um rico legado artístico e cultural. Infelizmente, a
publicidade em torno do rastafarianismo enfatiza, quase sempre, somente
aspectos como a "heresia de Selassie" e o uso damaconha como indicativo
de comportamento marginal ou antisocial. Muitos esquecem que a
existência do Movimento Rastafari é um milagre: um povo esquecido, uma
cultura perdida resgatando a si mesma e em si mesma os valores de uma
antiga ortodoxia a fim de sobreviver, espiritualmente, em meio à
hostilidade do ambiente consumista exterminador da pós-modernidade.
NOTA DO TRADUTOR: O autor fecha o texto com os versos de uma
canção de Bob Marley. Aqui, permitiu-se a licença poética de traduzir
estes versos. Abaixo, a letra original e a tradução:
VERSOS DE BOB MARLEY
Old pirates, yes, they rob I,
Sold I to the merchant ships,
Minutes after they took I
From the bottomless pit.
But my hand was made strong
By the hand of the Almighty.
We followed in this generation, triumphantly.
Won't you help to sing these songs of freedom?
Cause all I ever have: redemption songs,
These songs of freedom.
TRADUÇÃO
Os velhos piratas me sequestraram
E me venderam aos marinheiros mercantes
Logo eu estava no fundo do bote
Mas minha mão é forte
Pela mão do Todo-Poderoso
Nós seguimos nesta geração
Você gostaria de cantar esta canção de liberdade?
Porque é tudo o que eu tenho
Canções de redenção, essas canções de Liberdade.
fyaaaaa
ResponderExcluirIrmão, sou cristão, e tenho interesse em estudar a história do movimento rastafari, se você pudesse me mandar um e-mail falando mais detalhadamente ou apenas indicar bons livros. Aguardo o e-mail. Email: jmr97@hotmail.com
ResponderExcluirExiste cristão rastafari
ResponderExcluirAcho que essa vem sendo minha ideologia... Pois rastafari está mto interligado com os cristãos... Fumar erva não é pecado mano então fume ouça um reggae com seus amigos relaxe e use esse momento como forma de oração a Deus... Paz irmão
Excluircristaos creem nos ensinos e exemplo de Cristo,certo?sabido è que Vristo ao orar a Jeova seu pai,orava em paz e silencio sem a necessidade de fumar algo para se sentir bem.Nao era dependente de uma erva para setir-se bem.Correto?è o q diz as Escrituras,e confiamos nela como unica fonte escrita vinda da parte do Criador com as necessarias informaçoes para como viver melhor e adora-lo neste mundo.Ofereceram a Jesus um tipo de droga antes de morrer...o qual veemente recusou,comforme as Escrituras.Fumar alem de ser prejudicial á saude,tira voce de seu estado normal de consciencia.E devemos adorar a Deus com nossa mente limpa.Mas..enfim respeito seu modo de ver as coisas;o que faz parte do livre arbitrio q o proprio Jeova nos deu.Obrigada.Q Jeova(jah abreviado)cuide de todos nòs.
ExcluirParabéns pelo artigo. Paz
ResponderExcluirParabéns pelo artigo. Paz
ResponderExcluirJah Bless
ResponderExcluirMuito bom o artigo!!!
ResponderExcluirQuero participar de uma comunidade Rastafari oque eu faço onde posso encontrar uma pra mim si afilia
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue conteúdo Broder, parabéns
ResponderExcluirEsclarecedor seu artigo muito
ResponderExcluirSou espírita e minha doutrina e amar tudo que Deus criou.
Massa de mais o artigo. Me ajudou a criar um norte nos meus estudos sobre não só o rastafari, mas as vertentes cristãs religiosas, bem como as religiões africanas .... parabens .... nas rastafari sellasie, amor e bênçãos a todos os irmãos
ResponderExcluirComo faso para me comunicar com os rastafari e conheser um abraço e paz do Senhor Jesus
ResponderExcluirSou cristão da Igreja Asembleia de Deus na nosa doutrina dizem que Deus abomina o uso de Kanabis e nao podemos usar ese tipo de coisa na vida espiritual mas eu tenho a vontade de usar presiso de uma opinião a paz de Cristo
ResponderExcluirMano, se tu quiser conversar acha meu twitter thcoeh_ ou Instagram
Excluirquem é o autor deste texto?
ResponderExcluirGostaria de futuramente me integrar ao bobshanti.
ResponderExcluirQual são os tramites? Deixo meu contato. mittecesmitteces@outlook.com
Perfeito amor. Obrigado
Gostaria de futuramente me integrar ao bobshanti.
ResponderExcluirQual são os tramites? Deixo meu contato. mittecesmitteces@outlook.com
Perfeito amor. Obrigado
Muito bom conteúdo, de ensinamento a respeito da modo de vida Rasta, tenho pensamentos em concílios com eles , em alguns aspectos, mais creio em Jah Jesus Cristo , como Único Deus.! 🙏🏻📜
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